sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Andam confundindo pandemia com pandemônio

Passado o princípio de pânico ante a pandemia da chamada “gripe suína”, o quadro que temos hoje é bem mais tranquilizador do que o alarmismo advindo dos primeiros casos no México. Pelo que atestam os especialistas, o vírus A(H1N1) não chega a ser tão nefasto como sugeria a sua estranheza inicial. Hoje, sabemos que tanto pelos sintomas quanto pelos óbitos causados pelas complicações da doença (principalmente a pneumonia), a “gripe suína” não é mais grave ou menos grave do que aquela gripe “tradicional” causada pelo vírus conhecido genericamente como “influenza sazonal”. Isto sem contar os diversos outros tipos de vírus cuja proliferação é mais intensa no inverno. 

Segundo informação do Ministério da Saúde, ainda é cedo para especular sobre os efeitos futuros (mutação, agressividade etc.) do novo vírus, mas o fato é que, hoje, o vírus A(H1N1) entrou numa espécie de “competição” com a influenza sazonal. Isto significa que, neste inverno de 2009, somadas a gripe comum e a “gripe suína”, não temos, em termos relativos, um número muito maior de pessoas gripadas em comparação com o inverno de 2008. Da mesma forma, neste ano, o número de mortes causadas pelas complicações da gripe não é, na comparação com 2008, algo alarmante. Vale frisar: “mortes causadas pelas complicações da gripe” não é o mesmo que dizer “mortes causadas pelo vírus da gripe”. O vírus da gripe, diferente do que alguns setores da imprensa insistem em sugerir, não mata. O que pode matar, isto sim, é a desinformação. 

 O que temos lido e assistido na imprensa nos últimos dias em relação a nova gripe são enfoques estritamente sensacionalistas que em nada ajudam a preocupação do Ministério da Saúde de transmitir informação e tranquilidade à população. Em vez disso, ocupam o noticiário nacional com as “mortes causadas pela gripe suína (sic)”, a correria aos hospitais, a fragilidade do sistema de saúde pública e a revolta da população. Ora, não seriam tais notícias os fatores fomentadores de toda essa intranquilidade e caos? É o caso de se questionar: qual a real necessidade de um cidadão comum ser informado que “a gripe suína está matando”? Não seria mais sensato “bombardear” a população com dicas sobre a higiene pessoal e hábitos alimentares saudáveis? Ao que parece, andam confundindo “pandemia” com “pandemônio”, com a prevalência deste último. Chegou-se ao cúmulo de o noticiário televisivo mostrar um estádio de futebol com quase toda a torcida usando máscaras para “proteção contra a gripe”, como se residisse sensatez em tal providência... Até onde chegará, por parte da mídia, a propaganda da desinformação e estupidez? Cadê o papel social da imprensa? 

Nos países mais desenvolvidos em que o A(H1N1) se espalhou, o clima que ora impera é de tranquilidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde a nova gripe chegou forte (quando então era inverno por lá), o noticiário foi muito mais informativo do que alarmista. Não houve, portanto, o enfoque dramático como este com que a imprensa brasileira tem tratado do caso. O resultado é que a população norte-americana, no geral, continuou levando uma vida normal a tal ponto que, hoje, não há qualquer notícia; qualquer vestígio traumático da passagem da “gripe suína” pela América do Norte, onde ocorreram os primeiros casos. 

No mais, deixo aqui os links da esclarecedora entrevista que o ministro da saúde, José Gomes Temporão, falando sobre a nova gripe, concedeu ao programa do Jô Soares: