sábado, 6 de maio de 2006

FHC e o período sombrio da Petrobrás

Como todo mundo sabe, o governo de Fernando Henrique Cardoso queria vender a Petrobrás, que quase virou “Petrobrax”. Mas estava evidente que a venda do mais rico, estratégico e promissor patrimônio brasileiro não seria um projeto fácil como foi a venda das outras estatais. Pois havia o maior entrave: a opinião pública.

Coincidência ou não, a gula pela venda da Petrobrás foi sincronizada com a mais incrível sucessão de desastres e más notícias que aconteceram nos 55 anos de história da empresa. Em outras palavras: a “Era FHC” foi também o período mais negro da história da estatal brasileira. Estaria então a Petrobrás sendo “sabotada” para ser mais facilmente liquidada? Para quem gosta de uma teoria conspiratória, a imaginação é livre...

Mas se você conversar com qualquer técnico mais antigo e qualificado da Petrobrás, ele, cauteloso, talvez não falaria em “sabotagem” no sentido denotativo, mas sim de uma “sistematização de incompetência” que ocorreu no período FHC. Pois que a febre da terceirização teria atingido também setores da Petrobrás que exigiam uma alta capacitação técnica às custas de muito investimento em treinamento. Lembre-se que, para a doutrina neoliberal de FHC, investir num funcionário público é jogar dinheiro fora. Grosso modo, FHC fez com a Petrobrás o mesmo que faria um diretor incompetente de hospital que deseja “enxugar a máquina”: expulsa, por inanição (leia-se falta de estrutura e baixos salários), os médicos e enfermeiros existentes e terceiriza os serviços para uma empresa “especializada” em recrutamento de técnicos em enfermagem. O custo do resultado obviamente será bem mais alto do que se economizou no “enxugamento”...

Para que tenhamos uma clara idéia do que significaram os oito anos de FHC na história da Petrobrás, vamos aos números...

- Fernando Henrique Cardoso governou o Brasil entre 1995 e 2002.

Período Pre-FHC:
- Entre 1975 e 1994 (num período de 20 anos), a Petrobrás foi responsável por 9 (nove) desastres com danos ambientais - incluídos seis desastres em plataformas de exploração de petróleo.

Período FHC:
- Entre 1995 e 2002 (num período de 8 anos), a Petrobras registrou 29 (vinte e nove) desastres - incluídos quatro desastres com plataformas de exploração de petróleo. Ao fim do governo FHC, a Petrobrás tinha a pior imagem da sua história.

Período Lula:
Julgo desnecessário dizer no que se transformou a Petrobrás na "Era Lula". Notícia ruim sobre a empresa só agora, com a chamada “CPI da Petrobrás” provocada pelos partidários de FHC.

Fontes:

Blog Unipeg (de Sidney Dias, tecnólogo em petróleo e gás)

Monografia de Renata Argenta Bayardino (UFRJ)


Portal Ambiente Brasil

Se você quiser checar por si mesmo, faça uma pesquisa no Google com as entradas “Petrobras desastre” (sem aspas). Nos resultados que aparecerem, confira a data das notícias.

sexta-feira, 5 de maio de 2006

A tragédia da educação em São Paulo

Publicado originalmente no Portal Nassif em 4 maio 2009 às 16:04 em Educação.

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São Paulo tem tido um desempenho medíocre no Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem. Este dado, posto assim no contexto sofrível da educação (pública e privada) no Brasil, passa despercebido. Mas não deveria. Afinal, São Paulo é, disparado, o Estado mais rico da Federação. A despeito disto, as escolas localizadas no Estado (computadas as públicas e privadas) obtiveram, na média geral, o sexto lugar no ranking nacional.

O alarme para o fraco desempenho dos alunos paulistas pode ser dado na própria lógica buscada na estatística: quanto melhor o nível socioeconômico do estudante, maior a chance de se obter um bom desempenho no âmbito nacional. Pois não seria óbvio que tal fator ajudasse os estudantes do Estado de São Paulo? Ao contrário disto, a escola estadual paulista mais bem posicionada no ranking do Enem está numa longínqua 2.596ª posição. E poderia ser pior. Pois segundo reportagem da Folha de São Paulo, o diretor da tal escola (Escola Lúcia de Castro Bueno, em Taboão da Serra) só conseguiu tal "façanha" porque vai contra as orientações da Secretaria Estadual de Educação que, segundo ele, "só atrapalha". E outra reportagem da Folha já apontava, um ano antes, que o pífio desempenho de São Paulo no ENEM 2008 conseguiu ser pior do que em 2007, quando a melhor escola estadual de SP emplacou a 913ª posição.

Outro fator preponderante está no ranking das 20 melhores escolas do Brasil: São Paulo emplacou apenas quatro escolas, sendo que a melhor delas aparece em modesto oitavo lugar. A coisa piora se formos analisar o total de escolas avaliadas em cada Estado. Só de pegar a região Sudeste, já dá para se ter uma idéia da discrepância:

Espírito Santo: 470 escolas avaliadas;
Rio de Janeiro: 2.073 escolas avaliadas;
Minas Gerais: 2.913 escolas avaliadas;
São Paulo: 5.923 escolas avaliadas.

Ora, se conduzirmos o fato para o campo da probabilidade matemática, a coisa toma uma dimensão escandalosa: em número de escolas avaliadas, São Paulo tem quase o dobro de Minas Gerais, então o segundo maior Estado a oferecer escolas para o crivo do Enem. Atente-se ainda para o fato de que o número de escolas avaliadas em São Paulo (5.923) é maior do que a soma dos outros Estados do Sudeste, ou seja, 5.456 escolas avaliadas. Veja que Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, juntos, puseram 12 escolas no ranking das 20 melhores do Brasil, contra apenas 3 de São Paulo.

E se levarmos em conta as 100 melhores escolas avaliadas no ranking, a coisa fica mais turva ainda para as instituições de ensino localizadas em São Paulo, que aparecem em terceiro lugar, com 20 escolas - em comparação com o Rio de Janeiro, com 29 escolas entre as 100 melhores, ou Minas Gerais, com 23 escolas.

Diante dos fatos aqui analisados, parece claro que alguma coisa (não) acontece na educação em São Paulo que precisa ser urgentemente revisto. Espero que tal problema não descambe, como sempre, para a peleja política que mira 2010 – fator, aliás, que tem equivocadamente tirado os holofotes das discussões dos grandes problemas nacionais, como a já tradicional má vontade política para curar nossos abismos educacionais. E para a cura do mal, não são necessárias mágicas ou grandes esforços de criatividade: basta o governante seguir o que prescreve o capítulo III da Constituição Federal.

Fontes:
UFU – Universidade Federal de Uberlândia

UOL

INEP

Folha

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Cristovam e o factóide do "fechamento do Congresso"

Publicado em 14 abril 2009 às 20:26 em Política
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Dias atrás, o Senador Cristovam Buarque foi centro de uma polêmica: teria sugerido um plebiscito para fechar o Congresso Nacional.

Fiquei tão alarmado com esta notícia que imediatamente recorri à pesquisa na internet para saber se procedia. Pois, vinda de um democrata do naipe de Cristovam Buarque, a coisa tomava uma dimensão muito grave. Encontrei na internet centenas de portais e blogs repercutindo a notícia. Mas, escaldado nas armadilhas e nas infinitas irresponsabilidades de internautas descompromissados com a verdade, busquei informações apenas nos ambientes supostamente mais confiáveis.

Enfim, foi no blog do Noblat (então um daqueles “supostamente confiáveis”) que encontrei um artigo do jornalista Ruy Fabiano que engrossava a polêmica. Clique AQUI

Abrigado no espaço de Noblat, o artigo de certa forma avalizava tal notícia. Digo "avalizava" por um motivo muito simples: Noblat costuma abrigar também artigos do próprio Senador Cristovam Buarque. Desta forma, seria crível que o dono do blog publicasse ali uma grave inverdade acerca de uma pessoa com quem ele, pelo visto, tem facilidade de contato?

Enfim, pensei em lançar aqui neste espaço um artigo expondo minha indignação contra a idéia de Cristovam Buarque – descabida até mesmo se fosse apenas com a intenção de dar sacudida no Congresso. Mas, antes de publicar o artigo, eu, que nunca fui jornalista, pesquisei por uma declaração direta do Senador Cristovam Buarque. Não encontrei e decretei que isto era um factóide até que eu ouvisse ou lesse algo a respeito diretamente do Senador. Pois isto só veio a acontecer hoje, no blog de Ricardo Kotscho: uma carta do Senador Cristovam Buarque desmentindo o fato.

Abaixo, segue apenas alguns trechos que selecionei. Veja a íntegra no artigo de Kotscho clicando AQUI.

Carta do Senador Cristovam Buarque:

"Na semana passada, em Recife, em entrevista por telefone para o blog do Magno Martins, respondi que diante da crise de credibilidade do Congresso, em breve surgiria uma proposta de plebiscito para o povo decidir se deseja ou não um Parlamento aberto. A dimensão tomada pela divulgação desta frase, no blog, permite algumas lições.

A primeira, de como uma frase por telefone, de dentro de um carro no meio do engarrafamento, em poucas horas se espalha por todo o Brasil. Quando cheguei aonde ia, já havia jornalista me ligando para saber sobre o assunto.
(...)
Uma quarta lição é como as frases adquirem vôo próprio, transformam-se e passam a definir o que não estava na sua origem. Eu quero abrir o Congresso, não fechá-lo, como ele de certa forma está neste momento.
(...)
Outra lição é de que o político hábil é aquele que não corre risco dizendo frases polêmicas. A polêmica pode levar a desgastes de dimensões fatais eleitoralmente. O bom político é o silencioso, que trabalha sem polêmica, que concentra sua ação nas articulações internas ao Congresso e no convívio dos seus eleitores. Esta lição eu não vou seguir. Não vale a pena ver os problemas sem fazer deles o alarde que a história precisa um dia saber que foi feito."

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Os castelos que a imprensa nunca vê

Publicado originalmente em 5 fevereiro 2009 às 23:03.
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Pergunte para qualquer cidadão de Juiz de Fora razoavelmente bem informado o que significa o “Castelo do Edmar”. Pois muita gente aqui já sabe, há anos, do assunto que ora domina a mídia nacional: o novo corregedor da Câmara, o deputado federal Edmar Moreira (DEM-MG), construiu um Castelo – sim, com “C” – espetacular na cidade próxima, São João Nepomuceno. Isto sem falar dos concorridos réveillons que, lá ambientados, pipocam nas colunas sociais locais como “O” Evento.

Pessoalmente, a coisa me incomoda menos pela vocação nababesca de alguns políticos e mais pela mania da imprensa nacional de sempre chegar retardatária em assuntos afins. Isto lembra também do recente escândalo do “prefeito gatuno” que envergonhou os juiz-foranos. E não foi por falta dos “fortes rumores” populares – carros importados, avião, iate, mansões etc. – de enriquecimento ilícito que a imprensa não foi ao menos checar a informação. Que fim levou o tal do “jornalismo investigativo”?

O leitor deve conhecer, na sua região, pelo menos um caso de político que, “milagrosamente”, construiu fortuna. Já perdi as contas dos tantos casos de ostentação ou desvios de conduta de políticos que nunca mereceram a devida atenção da mídia. Da mesma forma, irrita-me a convicção de que o escândalo só será repercutido quando o agente político ascender a um cargo que a imprensa considera importante. Exemplo: Corregedoria da Câmara. Ou seja: nesta visão, o fato de o cidadão assumir o cargo de deputado federal não é relevante; assim como não deve ser grande coisa o cargo de Senador da República – a não ser que o senador assuma... vá lá... a Presidência do Senado. Só assim, ‘talvez’, vão descobrir e noticiar, bem mais tarde, que o sujeito tinha uma amante cuja pensão era paga por uma empreiteira; ou que mantinha uma fazenda para lavar dinheiro... Neste caso, a força do ‘talvez’ está sempre condicionada aos interesses – e à hipocrisia – da própria confraria conservadora que acusa.

Quero acreditar que a imprensa brasileira é séria, isenta e não faz parte desse jogo.

terça-feira, 2 de maio de 2006

Campanha de Obama se inspirou em Lula?

segunda-feira, 1 de maio de 2006

O cinismo midiático no "Reino da Grampolândia"



·         Publicado por Michel Arbache originalmente no Portal Nassif em 11 setembro 2008 às 14:48 

Em meio à celeuma em torno da chamada “grampolândia”, poucos se deram conta da grande usuária e beneficiária daquilo que ora se transformou em “abuso” dos grampos legais: a própria mídia.

Parece que só agora, no afã de proteger um gângster e seus muitos comparsas poderosos, a mídia, travestida com a bandeira do ‘Estado Democrático de Direito’, resolveu bradar com dose hipócrita contra aquilo que ela própria tem se servido nos últimos anos como gancho para a audiência.

Quem tem lido a imprensa ou assistido aos principais noticiários televisivos conhece perfeitamente aquilo que já virou um hit quase diário de “arapongagem informativa”. Pois as emissoras já criaram até quadros estilizados, mas que não fogem muito daquela fórmula padronizada: o repórter solta o “lava-mãos” preliminar – “em gravação autorizada pela justiça (...)” – e em seguida vem o show da bisbilhotice: a tela da tevê é dividida verticalmente em dois quadros, cada qual com a foto e a transcrição da conversa (mesmo que esta esteja perfeitamente audível) por telefone das pessoas flagradas pela polícia. No caso das revistas, o infalível apelo invariavelmente já vem na própria capa: um título sensacionalista acompanhado de fotos à penumbra para realçar o clima noir.

Evidente que tal estratégia da mídia, longe de qualquer compromisso com a informação, está muito mais para o vale-tudo pela audiência – como a oferecer ao telespectador um reality show com tempero hitchcockiano. Sim: a mídia aprendeu com o Big Brother que o seu público deseja, ali, algo mais do que meramente bisbilhotar a vida alheia: quer baixaria, sacanagem e, claro, suspense. E não é exatamente este o teor daquilo que assistimos, por exemplo, numa conversa “autorizada pela justiça” entre uma celebridade e um bandido?

A fórmula se transformou em tamanho sucesso que, vira e mexe, mesmo uma conversa inocente entre pessoas, quando enquadrada naquele formato “te peguei!”, toma a dimensão de um Watergate. Neste caso, a estratégia é dupla: arrebatar audiência e destruir desafetos.

Daí alguém poderia questionar: onde está a informação objetiva; relevante? Cadê a ética de um veículo de comunicação que, a pretexto de exibir a prova de um crime, só quer extasiar e confundir o seu público; só faz condenar pessoas antes do julgamento e alertar aos criminosos para que se acautelem em suas tramas ao telefone?

A resposta, caro leitor, infelizmente perdeu-se no ralo do esgoto em que a nossa mídia se meteu primeiro.