Passados os Jogos Olímpicos de Pequim, parece que os dirigentes esportivos brasileiros finalmente resolveram acordar para um fato: a falta de preparo psicológico dos nossos atletas.
Já em 2004 eu chamava a atenção para este problema, o que rendeu um artigo de minha autoria publicado no jornal local ‘Tribuna de Minas’ (de 05/09/2004). Aqui, exponho o artigo na íntegra:
"PSICOLOGIA DO ESPORTE
'Mens sana in corpore sano'. A partir desta velha citação, o meu mestre de ginástica olímpica costumava professar para seus jovens alunos coisas do tipo: 'quem pratica esporte, nunca vai precisar de psicólogo'.
Daquela doutrinação, meus colegas e eu passamos a acreditar que o mundo era dividido em duas correntes filosóficas: os esportistas e os não-esportistas. A psicologia, em nossa inocente visão, era uma supérflua ciência que nascia para cuidar dos antiesportistas. O divã era, pois, a metáfora da falência moral; da fraqueza de espírito; o símbolo, enfim, de tudo aquilo que refutávamos.
Felizmente, o mundo avançou e a psicologia conseguiu se consagrar como uma ciência essencial em todas as áreas: educacional, empresarial etc. Mas, no Brasil, a psicologia ainda enfrenta o preconceito, mais notadamente no esporte. É como se aquela antiquada filosofia do professor de ginástica remanescesse em esportistas e dirigentes. E este equívoco rendeu grandes fiascos para o nosso esporte, como a fatídica derrota do vôlei feminino para as cubanas, nas semifinais dos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996), jogo que acabou em baixaria. Pois o time brasileiro, melhor tecnicamente, acabou sucumbindo às provocações das adversárias. Depois, seria revelado que, ante a vulnerabilidade emocional das jogadoras brasileiras, as cubanas começaram a receber treinamento especial para irritá-las. Naquele tempo, surpreendi-me com o fato de que não havia um profissional qualificado para preparar psicologicamente as brasileiras. Hoje, oito anos depois, constatamos: nada mudou.
No esporte brasileiro, não falta apenas incentivo governamental. Técnicos e dirigentes esportivos, por preconceito ou desinformação, não enxergam que o preparo psicológico é decisivo – principalmente numa curta competição na qual o atleta, sob pressão e longe da família, busca superação e precisão. Quem acompanhou esta Olimpíada, pôde testemunhar derrotas “por um triz” do esporte brasileiro causadas pelo desprezo à Psicologia do Esporte.
Como exemplo de valorização ao preparo psicológico, cito o abnegado Ayrton Senna, que tinha dificuldades para se concentrar. Por conta disso, errou quando liderava o GP de Mônaco de 1988, um circuito em que a mínima distração é o limite entre o muro de concreto e o pódio. A partir daquela derrota, Senna percebeu que a falta de concentração estava sendo determinante no seu desempenho. Talvez até pelo fato de ter uma irmã psicóloga, o piloto não hesitou em procurar ajuda profissional para superar aquele problema. Resultado: virou não só o 'Rei de Mônaco', mas o tricampeão que todos conhecem.
(Publicado no Portal Nassif em 28/08/2008)
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