terça-feira, 15 de setembro de 2009

Antes de julgar Nelsinho Piquet, leia isto.

Virou moda a crucificação do Nelsinho Piquet. E desconfio que parte dos petardos que o jovem piloto tem recebido seja herança da convivência nada pacífica que seu pai teve com a imprensa em geral na sua época de piloto - ao contrário de Senna, um craque inclusive na promoção da sua imagem. Mas esta é uma outra história que não vem ao caso.

Concordo com quem está indignado tanto com o chefe da equipe Renault quanto com a atitude de Nelsinho Piquet, que confessou que bateu seu carro de propósito para paralizar a corrida e favorecer seu companheiro de equipe. Não quero, aqui, defender ou justificar a atitude (errada) de Nelsinho. Mas antes de algumas pessoas aparecerem aqui para atacar o piloto brasileiro, é bom que se diga que sua burrada não é sequer inédita ou mais grave do que já rolou na história do automobilismo. Nem mesmo a confissão de que o ato foi deliberado é novidade...

Não sei se alguns comentaristas de plantão têm memória curta ou se simplesmente desconhecem a história não muito remota da F1. Ou então cometem aquela velha mania do "moralismo seletivo" tão comum na nossa imprensa, ou seja, de deixar patente que os erros dos seus desafetos são piores que os erros dos seus protegidos.

Quer ver só?

No último GP (Japão) de 1989, o francês Alain Prost (McLaren) liderava o campeonato e só poderia ser alcançado por pontos por Ayrton Senna (também McLaren). Obviamente, se ambos saíssem da corrida, o líder do campeonato seria o campeão. Mas eis que, quase ao final da corrida, Senna tentou a ultrapassagem em cima do Prost, que deliberadamente "fechou a porta" para provocar um acidente. Prost saiu da corrida e Senna, após ser empurrado pelos fiscais, continuou; parou no box para trocar o aerofólio e acabou vencendo a corrida. Venceu, mas não levou. Porque por conta de uma "patriotada" do presidente da FIA na época (o francês Jean-Marie Balestre), Senna foi desclassificado por ter recebido "ajuda externa" dos fiscais e por ter "cortado caminho" numa ultrapassagem. Resultado: Prost foi campeão. Confira no link abaixo:

No ano seguinte, 1990, no mesmo GP do Japão, a situação no campeonato era inversa: Senna (McLaren) liderava o campeonato e só poderia ser alcançado por Prost (já na Ferrari). E Senna revidou a deslealdade bem na largada. Ambos saíram da pista e Senna sagrou-se campeão. Eis o link:

A melhor resposta para quem duvida que a manobra de Senna tenha sido deliberada está no próprio site "Globoesporte" (Globo):

"Depois do acidente, Prost reclamou muito da manobra, mas de nada adiantou. Mais tarde, Senna confessaria numa entrevista coletiva que bateu deliberadamente, como forma de vingança ao que lhe acontecera em 1989."

Confira no link:

Ante os fatos expostos, se tivéssemos que pôr na balança as gravidades dos pecados cometidos, seria conveniente raciocinar:

- Tanto Senna quanto Prost agiram por contra própria; cometeram uma deslealdade que pôs em risco a própria vida e a do adversário; cada qual agiu de modo a favorecer a si mesmo, "só" com a vitória no campeonato mundial; a deslealdade afetou diretamente o resultado do campeonato.

- Nelsinho Piquet agiu a mando do dono da equipe; cometeu uma delealdade que pôs em risco sua própria vida; agiu de modo a favorecer seu companheiro de equipe e com todo um prejuízo pessoal; ao que tudo indica, a delealdade pouco (ou nada) vai afetar o resultado do campeonato.

(Post originalmente publicado no Portal Nassif em 15 de setembro de 2009. 

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