domingo, 27 de junho de 2010

O dia em que Roberto Freire furou a fila - e perdeu um voto.

Vivíamos o calor das primeiras eleições diretas após um longo período de ditadura. Por isto, o que monopolizava o debate naquela época era muito menos a economia do país e muito mais o perfil ideológico dos candidatos. E Roberto Freire (PCB) figurava como "esquerda" e servia para muitos intelectuais como uma espécie de coringa na rivalidade entre os eleitores de Brizola (PDT) e Lula (PT). Na época, eu não entendia muito bem a diferença entre o PC do B (que estava coligado com o PT) e o PCB (hoje PPS) de Freire. Um amigo explicou de forma irônica, porém bem didática: "PC do B significa Partido Comunista do Brasil; e PCB significa Partido Comunista Burguês". A despeito dessas contradições ideológicas da vida, lembro de um constrangimento vivido por Roberto Freire no dia da eleição e que foi registrado numa pequena "nota de bastidores" num jornal. Foi um incidente pequeno, porém emblemático.

No dia 15 de novembro de 1989, o primeiro turno daquelas eleições, Roberto Freire, em Pernambuco, resolveu acompanhar a filha (que votava pela primeira vez) à seção eleitoral dela. A fila para votar estava grande e, após as saudações dos populares ao candidato, uma moça que aguardava sua vez percebeu uma movimentação em torno dos mesários da seção. Em pouco tempo, a filha de Freire foi chamada para votar - "furando" assim a fila e passando na frente dos outros eleitores. E a moça (que tinha percebido tudo) começou a protestar em voz alta diretamente com o candidato: "É assim que o senhor pretende governar o Brasil?". Enfim, a indignada fez a declaração derradeira; algo como: "Eu ia votar no senhor, mas depois dessa não voto mais".

(Publicado no Portal Nassif em 27 de junho de 2010).



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