Composição: Gilmour, Mason, Waters, Wright
Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an offhand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way
Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun
And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death
Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the English way
The time has gone, the song is over, thought I'd something more to say
Tradução:
Tempo
Contando os momentos que maquiam um dia enfadonho
Você desperdiça e perde tempo à toa; nem aí pra nada
Perambulando no seu mundinho na sua cidade natal
Esperando alguém ou algo pra te mostrar o caminho
Cansado de ficar de papo pro ar em casa vendo a chuva cair
Você é jovem e a vida é longa e hoje há tempo pra matar
E assim um dia você descobre que dez anos voaram
Ninguém te falou quando correr, você perdeu o tiro de partida
E você corre e corre para alcançar o sol, mas ele está se pondo
E correndo em volta da Terra pra surgir novamente atrás de você
O sol é relativamente o mesmo, mas você está mais velho
Sem fôlego e cada dia mais perto da morte
Cada ano vai ficando mais curto, parece que nunca há tempo pra nada
Planos que deram em nada ou mesmo meia página de linhas rabiscadas
Suportando um silencioso desespero é bem o jeito inglês
O tempo acabou, a canção terminou, acho que tinha algo mais a dizer
Análise
A canção ‘Time’ começa com um oportuno despertador que simboliza a própria mensagem da letra. É como se os letristas quisessem dizer: “hei, acorda pra vida!”.
Antes de começar a análise, vale uma observação a respeito da tradução. Em primeiro lugar, a expressão “ticking away” (um phrasal verb relativo à passagem e/ou marcação de tempo) está condicionada a “moments” e toma, assim, um sentido cujo melhor correlato para o português seria “contando os momentos” – no sentido de “passando o tempo em momentos”. Uma outra observação é relativo ao complicadíssimo “make up”, que pode tomar o sentido de ‘compor’, ‘compensar’, ‘fantasiar’, ‘iludir’, ‘disfarçar’, ‘maquiar’... Veja que, se é verdade que qualquer um desses verbos se encaixaria no verso, também é verdade que cada um muda consideravelmente o sentido do mesmo. Pessoalmente, considero que o termo metafórico “maquiar” seria mais apropriado para o contexto. Bom, para explicar isto, melhor é partir direto para a análise...
A letra fala de uma pessoa jovem que, “de bobeira”; fechado no seu mundinho, vai vivendo o seu dia-a-dia “chutando lata”, como se diz por aí. Embora a pessoa não esteja satisfeita, ela vai levando sua vidinha ociosa; vai se relacionando com pessoas com as quais, no fundo, nem gostaria de estar... Assim, os momentos (bons e ruins) que ela vai passando nessa vidinha medíocre só servem para maquiar o que, no fundo, é pura monotonia.
O verso “Esperando alguém ou algo pra te mostrar o caminho” mostra aquele comodismo da pessoa que, em vez de correr atrás, prefere acreditar no milagre de que, um dia, vai aparecer aquele alguém que vai lhe tirar do fundo do poço; que vai dar aquele empurrão encorajador na direção do sucesso.
A segunda estrofe começa com o “Tired of lying in the sunshine”, que tem sido traduzido para algo como “Cansado de ficar estirado ao sol”. Tudo bem. Mas devemos entender “lying in the sunshine” como uma expressão idiomática que conhecemos como “ficar de papo pro ar”. Até porque, se analisarmos o verso, ficaria estranho a tradução literal “Cansado de ficar estirado ao sol ficando em casa pra ver a chuva cair”. Enfim, a estrofe inicia como a referência à pessoa que já está de saco cheio da vidinha “mais ou menos”. Porém, no fundo ela se conforma porque raciocina da seguinte forma: “eu sou jovem e a vida é longa; portanto, eu posso coçar o saco hoje que amanhã dá pra compensar”. E no dia seguinte faz a mesma coisa; e depois idem... E eis que, um dia, ela vê que dez anos passaram rapidinho; e não apareceu ninguém para dar um toque... E quando a pessoa resolve acordar, vê que ficou pra trás – “You missed the starting gun!”. Interessante notar que aqui, assim como na canção ‘Breathe’, é recorrente a analogia da vida com a disputa de uma corrida. Pois lá (em ‘Breathe’) a letra traz a menção irônica: “Mas somente se você entregar-se à maré / Você disputa a corrida para a sepultura precoce”.
A terceira estrofe começa também como uma recorrência ao que foi visto em ‘Breathe’: a referência ao sol como algo positivo. A pessoa corre para tentar alcançar o sol (ou, como dizem, “conseguir o seu lugar ao sol”), mas ele já está se pondo. E o sol vai correr dando uma volta inteira na terra e ressurgir atrás da pessoa (então já retardatária)... Mas quando o sol surgir novamente, a pessoa já está velha e sem fôlego para alcança-lo... E o processo vai se repetindo até o dia em que a pessoa se vê perto da morte e com o dilema: do que me valeu a dádiva da vida se eu não tive competência para preenchê-la de maneira sublime?
Finalmente, a última estrofe fecha de maneira melancólica os ‘toques’ da letra – mas desta vez do ângulo da pessoa que, já velha, olha para trás e parece fazer uma reflexão do que foi sua vida. O primeiro verso “Every year is getting shorter (…)” exprime exatamente aquela sensação que todos nós temos: cada ano de nossas vidas parece que passa mais rápido que o anterior; e concomitante a isto, aos poucos se esgota o tempo para realizar algo. Isto fica mais nítido se uma pessoa mais velha fizer a comparação dos tempos de juventude, quando tinha tempo e energia de sobra para fazer tudo: estudar, correr, viajar, jogar, namorar, cinema, churrasco, balada...
E ainda olhando para trás, lembramos daqueles planos que nunca saíram do papel exatamente pelos imprevistos ou pela própria inércia; pelo comodismo. A imagem da “meia página de linhas rabiscadas” remete-nos exatamente a isto: um projeto de vida interrompido no meio do caminho – que é emendado pela famosa frase: “Suportando um silencioso desespero é bem o jeito inglês”. Esta é uma crítica de Roger Waters aos seus compatriotas, reconhecendo nestes o conservadorismo até mesmo da sua própria infelicidade; a inércia que impede uma atitude para se erguer e mudar sua vida.
E o último verso, embebido por fina ironia, é um fecho espetacular que vem como um resumo, ou, confirmação da mensagem principal da letra. Quer dizer: o tempo, implacável que é, não perdoou inclusive os letristas. Pois estes falaram, falaram... E eis que o tempo se esgotou, a canção terminou e eles não puderam dizer tudo aquilo que pretendiam. Ou seja: fica-nos a impressão de que a letra ainda tinha algo de importante para dizer e que acabou ficando perdido pelo esgotar do tempo – tal qual uma vida que chega ao fim com as diversas oportunidades destruídas pela implacabilidade do tempo.
Antes de começar a análise, vale uma observação a respeito da tradução. Em primeiro lugar, a expressão “ticking away” (um phrasal verb relativo à passagem e/ou marcação de tempo) está condicionada a “moments” e toma, assim, um sentido cujo melhor correlato para o português seria “contando os momentos” – no sentido de “passando o tempo em momentos”. Uma outra observação é relativo ao complicadíssimo “make up”, que pode tomar o sentido de ‘compor’, ‘compensar’, ‘fantasiar’, ‘iludir’, ‘disfarçar’, ‘maquiar’... Veja que, se é verdade que qualquer um desses verbos se encaixaria no verso, também é verdade que cada um muda consideravelmente o sentido do mesmo. Pessoalmente, considero que o termo metafórico “maquiar” seria mais apropriado para o contexto. Bom, para explicar isto, melhor é partir direto para a análise...
A letra fala de uma pessoa jovem que, “de bobeira”; fechado no seu mundinho, vai vivendo o seu dia-a-dia “chutando lata”, como se diz por aí. Embora a pessoa não esteja satisfeita, ela vai levando sua vidinha ociosa; vai se relacionando com pessoas com as quais, no fundo, nem gostaria de estar... Assim, os momentos (bons e ruins) que ela vai passando nessa vidinha medíocre só servem para maquiar o que, no fundo, é pura monotonia.
O verso “Esperando alguém ou algo pra te mostrar o caminho” mostra aquele comodismo da pessoa que, em vez de correr atrás, prefere acreditar no milagre de que, um dia, vai aparecer aquele alguém que vai lhe tirar do fundo do poço; que vai dar aquele empurrão encorajador na direção do sucesso.
A segunda estrofe começa com o “Tired of lying in the sunshine”, que tem sido traduzido para algo como “Cansado de ficar estirado ao sol”. Tudo bem. Mas devemos entender “lying in the sunshine” como uma expressão idiomática que conhecemos como “ficar de papo pro ar”. Até porque, se analisarmos o verso, ficaria estranho a tradução literal “Cansado de ficar estirado ao sol ficando em casa pra ver a chuva cair”. Enfim, a estrofe inicia como a referência à pessoa que já está de saco cheio da vidinha “mais ou menos”. Porém, no fundo ela se conforma porque raciocina da seguinte forma: “eu sou jovem e a vida é longa; portanto, eu posso coçar o saco hoje que amanhã dá pra compensar”. E no dia seguinte faz a mesma coisa; e depois idem... E eis que, um dia, ela vê que dez anos passaram rapidinho; e não apareceu ninguém para dar um toque... E quando a pessoa resolve acordar, vê que ficou pra trás – “You missed the starting gun!”. Interessante notar que aqui, assim como na canção ‘Breathe’, é recorrente a analogia da vida com a disputa de uma corrida. Pois lá (em ‘Breathe’) a letra traz a menção irônica: “Mas somente se você entregar-se à maré / Você disputa a corrida para a sepultura precoce”.
A terceira estrofe começa também como uma recorrência ao que foi visto em ‘Breathe’: a referência ao sol como algo positivo. A pessoa corre para tentar alcançar o sol (ou, como dizem, “conseguir o seu lugar ao sol”), mas ele já está se pondo. E o sol vai correr dando uma volta inteira na terra e ressurgir atrás da pessoa (então já retardatária)... Mas quando o sol surgir novamente, a pessoa já está velha e sem fôlego para alcança-lo... E o processo vai se repetindo até o dia em que a pessoa se vê perto da morte e com o dilema: do que me valeu a dádiva da vida se eu não tive competência para preenchê-la de maneira sublime?
Finalmente, a última estrofe fecha de maneira melancólica os ‘toques’ da letra – mas desta vez do ângulo da pessoa que, já velha, olha para trás e parece fazer uma reflexão do que foi sua vida. O primeiro verso “Every year is getting shorter (…)” exprime exatamente aquela sensação que todos nós temos: cada ano de nossas vidas parece que passa mais rápido que o anterior; e concomitante a isto, aos poucos se esgota o tempo para realizar algo. Isto fica mais nítido se uma pessoa mais velha fizer a comparação dos tempos de juventude, quando tinha tempo e energia de sobra para fazer tudo: estudar, correr, viajar, jogar, namorar, cinema, churrasco, balada...
E ainda olhando para trás, lembramos daqueles planos que nunca saíram do papel exatamente pelos imprevistos ou pela própria inércia; pelo comodismo. A imagem da “meia página de linhas rabiscadas” remete-nos exatamente a isto: um projeto de vida interrompido no meio do caminho – que é emendado pela famosa frase: “Suportando um silencioso desespero é bem o jeito inglês”. Esta é uma crítica de Roger Waters aos seus compatriotas, reconhecendo nestes o conservadorismo até mesmo da sua própria infelicidade; a inércia que impede uma atitude para se erguer e mudar sua vida.
E o último verso, embebido por fina ironia, é um fecho espetacular que vem como um resumo, ou, confirmação da mensagem principal da letra. Quer dizer: o tempo, implacável que é, não perdoou inclusive os letristas. Pois estes falaram, falaram... E eis que o tempo se esgotou, a canção terminou e eles não puderam dizer tudo aquilo que pretendiam. Ou seja: fica-nos a impressão de que a letra ainda tinha algo de importante para dizer e que acabou ficando perdido pelo esgotar do tempo – tal qual uma vida que chega ao fim com as diversas oportunidades destruídas pela implacabilidade do tempo.
10 comentários:
Parabéns, meu irmão. Muito interessante seu blog. Também acho o Dark Side Of The Moon um dos discos mais incríveis da história.
Obrigado por compartilhar o que sabe com o resto do mundo.
Com certeza já foi útil para mais pessoas além de mim, apesar dos poucos comentários.
Nunca desista, amigo. Nunca.
Deus te abençoe; abraço.
Belo post! Tinha alguns satoris enquanto lia o texto, conheço floyd a pouco tempo, ou seria no tempo certo?
www.yesterday-2-tomorrow.blogspot.com
abraço!
Estêvão
faltou a parte final da musica...
home, home again...
Sensacional a tua análise. Parabéns!!!
Parabéns pela análise, agora eu admiro ainda mais esse disco.
Eu concordo com a sua interpretação do Sol sendo algo positivo, porém o Sol dando uma volta e alcançando a pessoa pode ser também a passagem do tempo, mais um dia que passou e foi desperdiçado. E correr atrás dele seria algo como tentar recuperar o tempo perdido.
Abraço
meus parabéns!! melhor análise que já li sobre o assunto.
Incrivel ! Meus parabéns. Estou atraz de um site que faça essas interpretções de letras há muito tempo e fiquei imprecionado com seu blog. Se aprofundou de forma absurda e o mais incrivel sem duvida foi ver como "The Dark Side of Moon" é tão bem estruturado, ou como você disse lá no começo, "engenhoso". Muito obrigado.
(Eu me identifiquei um pouco com 'Time', o que é meio triste)
Meus parabéns, caro amigo!
Sensacional tua análise dessa música que, para mim, é uma obra-prima...
Essa canção sempre me emociona e seus comentários ajudaram a compreendê-la ainda melhor.
Parabéns pelo trabalho.
Grande abraço!
*você gosta de poesia?
Conheça meu blog:
http://www.conviteaoleitor.blogspot.com/
esses eh sem duvidas um dos melhores albumns da historia sim!
sua interpretacao ta otima! mta coisa ja tinha interpretado, mas em geral foi bastante esclarecedor.
parabéns
Fico muito feliz por ter você para me clarear a ideia desta música com uma análise tão bela. Estou muito admirada e surpresa com as suas interpretações. Você está fazendo algo muito grande, parabéns.
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